- Alto grau de inteligência, embora não necessariamente de cultura. Um forte jogador de xadrez pode ter muito pouca cultura. Pode não saber mesmo ler ou escrever. Mas nunca será estúpido.
- Capacidade de pensar objetivamente. A presença de um adversário que compreende a lógica rigorosa de todas as relações no tabuleiro de xadrez deixa pouco lugar para interpretação subjetiva arbitrária.
- Capacidade de pensamento abstrato. As generalizações corretas, baseadas em experiências adquiridas em anos de prática, produzem o chamado "instinto posicional" do mestre de xadrez, que lhe permite deduzir o melhor lance em situações nas quais é impossível o cálculo exato.
- Capacidade de distribuir a atenção por diversos fatores diferentes, como os que estão sempre envolvidos numa "combinação". Isso evita que o jogador deixe de perceber certos lances, fraqueza que prejudica o jogo da maioria dos amadores.
- Vontade disciplinada, capaz de forçar a rapidez e concentração do processo de pensamento, sempre que necessário, até muito além da capacidade normal do jogador. Em contraste com o pensamento filosófico ou matemático, o pensamento do mestre de xadrez precisa às vezes de terrível intensificação momentânea, porque o xadrez é uma luta e o jogador tem de chegar a uma decisão dentro de certos limites de tempo. A consideração vagarosa de relações puramente lógicas, que pode resolver os problemas de um filósofo ou de um matemático, não levará à vitória o mestre de xadrez.
- Bons nervos e auto-controle. O jogador que não seja capaz de disciplinar suas emoções está sujeito a desmoralizar-se e jogar muito abaixo de sua força real. Precisa poder resistir à tensão da pressão do tempo, que abala muito os nervos, e quando o resultado é um erro que o leva à derrota numa partida quase ganha deve aceitar calmamente a situação.
- Auto-confiança. O mestre de xadrez deve ter uma confiança implícita em seu julgamento de posições, pois raramente é possível a análise pormenorizada de todas as variações pertinentes.
Esta última qualidade é uma que, nos jogadores de xadrez proeminentes, não precisa de desenvolvimento especial. Raramente são encontrados, em qualquer outro setor, mortais mais auto-confiantes. Uma história contada a respeito do mestre russo Efim Bogolyubov, e que se tornou clássica nos círculos enxadrísticos, é divertido testemunho desse fato. Quando um admirador lhe perguntou se preferia jogar com as peças brancas ou com as negras, ele respondeu: "Eu não tenho preferência. Quando jogo com as Brancas, ganho porque tenho o primeiro lance. Quando jogo com as Negras, ganho porque sou Bogolyubov." A auto-confiança, porém, e todas as outras qualidades mencionadas pelos psicólogos não levarão muito longe o mais bem dotado jogador, a menos que a elas se junte aquela perfeição técnica que, em nossa era científica, se tornou indispensável mesmo em setores onde uma imaginação rica pareceria ser de primordial importância. Tal perfeição técnica exige enorme volume de prática desde tenra idade. Exige também anos de estudo para assimilar o que os mestres do passado descobriram com o suor de seus rostos e acompanhar a massa sempre crescente de análises contemporâneas de jogo de abertura. Nem a prática e um conhecimento enciclopédico serão suficientes para manter um mestre à frente de seus competidores. Por estranho que pareça, sua disposição física é quase igualmente importante. O estado de saúde de um mestre sempre afeta sua contagem num torneio. Precisa ter o vigor necessário para manter claras as suas ideias durante as quatro ou cinco horas de uma sessão de jogo. Caso contrário estará sujeito a perder a melhor das posições através de um erro decisivo.
Muito bom este texto.
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